Os vídeos satirizando o comportamento das pessoas no “retorno” ao modo tradicional de trabalho não param de chegar no meu celular. Cada vez que dou play me vem o mesmo pensamento: a cadeira onde sentamos será uma preocupação nos próximos anos? Eu mesma mudei de emprego sem levantar dela. E estaria sendo hipócrita se dissesse que a possibilidade de continuar trabalhando de forma flexível não pesou em minha decisão.
Quase dois anos depois dos times de escritório migrarem para uma rotina remota, com um certo sucesso, ainda vejo muitos movimentos e planejamentos em direção ao retorno. Como se tudo o que aconteceu fosse uma fase, uma solução temporária. Não acho que seja. O mundo mudou, nós mudamos, tudo mudou e a única certeza que temos é que continuará mudando.
Claro que não estou esgotando tudo em uma possibilidade. Existem muitas variáveis e modelos, de acordo com a cultura de cada organização. Mas o fato é que o trabalho remoto já existia, existe e continuará existindo. Não podemos ignorar isso. As equipes comerciais, representantes de vendas, marítimos e outros tantos profissionais já formavam um público à parte antes da pandemia. A maioria era alijada da comunicação, das interações e, fundamentalmente, das decisões.
A Pandemia nos preparou para a adversidade
Fato que as estruturas organizacionais mudaram e irão mudar ainda mais. E as áreas de comunicação sentiram muito esse impacto. Como tradutoras de diretrizes estratégicas e promotoras de cultura, se tornaram guardiãs do bem estar, do engajamento e de meios diversos e adversos de transmissão de informações.
Estamos aprendendo a navegar em águas nunca antes exploradas e isso gera uma resistência natural. Por outro lado, a crise está nos preparando para esperar o impossível e isso torna a comunicação interna mais robusta e flexível.
A questão indiscutível é que se antes já nos preocupávamos com os profissionais externos, à margem da comunicação, no mundo pós-Covid temos que alcançar a todos e com um imediatismo que não nos era tão familiar como agora. Os riscos da desinformação, do não envolvimento e participação têm piores consequências para todos. Não podemos nos dar ao luxo de esperar ou buscar por informações críticas. A Comunicação Interna absorveu também esse papel.
De acordo com a Gallup, colaboradores podem gastar cerca de 2,5 horas por dia procurando as informações de que precisam. O cenário atual mostra que esse lapso de tempo precisa ser eliminado.
Assim como agilidade, clareza e transparência também são fundamentais para evitar interpretações distorcidas. A liderança é peça indispensável nessa engrenagem. Gestores devem estar preparados para ser comunicadores. Em tempos de incerteza, a direção deve ser compartilhada a todo momento.
E não há como fazer isso sem o auxílio da tecnologia. Ela será sua maior aliada no mundo que envolve pessoas sentadas em todos os lugares. Ela garantirá: o imediatismo que precisamos; a segmentação que garante personalização e proximidade; o espaço de colaboração e a mensuração das ações estratégicas. Além de ser um precioso ambiente para troca de feedbacks. As tecnologias serão nosso termômetro e nossa bússola.
O futuro do trabalho já começou
Estamos num momento difícil, com nossa saúde mental abalada pelas horas a fio conectados às telas, mas antes disso muitos atravessavam a cidade para trabalhar através de telas. Perdemos estas fronteiras e ganhamos outras. Se temos um ponto positivo a extrair disso tudo é a descentralização das decisões, a famosa quebra de silos. Mais cedo ou mais tarde precisaremos entender que as próximas gerações estão se pautando na experiência, nas conexões verdadeiras, na identificação com o propósito e na busca de um significado para seus ofícios.
O escritório servirá a uma experiência para encontros ocasionais? Adotaremos modelos híbridos? Pode ser, pois o ser humano é gregário e a necessidade de exercer algumas atividades presencialmente é natural. Entretanto, o que conhecíamos como trabalho mudou. O foco são as pessoas e não onde elas estão. As culturas se constroem com e entre pessoas, não importa onde estejam sentadas. Rituais e cerimônias podem e devem acontecer também presencialmente e estes momentos sempre farão parte da cultura organizacional. Mas pensar fora dos escritórios inclui a todos e este é o caminho para comunidades plurais e humanizadas.
Texto escrito por Tatiana Siqueira, especialista em Comunicação Interna e Endomarketing no BWG.